domingo, 3 de agosto de 2008

Os porquês da alta dos alimentos

É global a chiadeira contra a alta no preço dos alimentos. No Brasil, por sermos grandes produtores de grãos e carnes, o impacto está sendo menor do que na maioria dos demais países. Mesmo assim, também o consumidor brasileiro está sentindo a diferença dos preços vigentes em 2005/06, comparados aos de 2007/08. E para piorar, análises prospectivas realizadas por organismos nacionais e internacionais indicam que os preços permanecerão altos por muitos anos ainda. Pior, eles jamais recuarão aos valores anteriores, pela simples razão de que os custos para produzi-los cresceram na mesma velocidade dos preços de venda.

Com melhores perspectivas de renda, o produtor rural deverá reagir e disponibilizar mais alimento, embora não possa fazê-lo de imediato, principalmente na produção de carne bovina, de vez que no período de preços baixos, o produtor foi obrigado a sacrificar as vacas que produzem os bezerros, para sobreviver. Sem a vaca não há bezerro e sem bezerros não teremos novilhos para o abate. Simples assim.

Hipocritamente, muitas organizações e indivíduos, mundo afora, se levantaram contra a produção de biocombustíveis, culpando-os pelo aumento no custo dos alimentos, o que é uma falácia. Se bem os biocombustíveis têm lá sua cota de responsabilidade na alta do preço da comida, principalmente o etanol feito de milho e trigo, sua culpa é marginal.

Até o mais humilde cidadão sabe que a causa principal do movimento altista dos alimentos está no desequilíbrio entre a oferta e a demanda e que parte desse desequilíbrio poderia ser creditada ao desestímulo à produção, por causa do baixo preço dos produtos agrícolas dos últimos anos. É importante que se esclareça aos consumidores urbanos que reclamam da alta dos alimentos, que seu preço ainda está baixo. Estudo da LMC International indica que de 1974 até 2001, o preço de alguns produtos estudados (milho, trigo, açúcar e óleos vegetais) caiu, em média, 2% ao ano (54% no período). Se o estudo continuasse, indicaria que os preços continuaram caindo até 2006.

A bem da verdade, se não ocorresse a atual recomposição de preços, haveria falta de alimentos, pela simples razão de que não haveria quem quisesse produzi-los. Portanto, é melhor ter comida mais cara, do que não ter comida alguma. Durante muitos anos o cidadão urbano comeu barato, enquanto o produtor rural empobreceu, se marginalizou. Trabalhou para colher prejuízos. Muitos, além de sacrificar as vacas que geram os bezerros, também venderam as suas terras e migraram para a periferia das cidades, onde constituem mão de obra desqualificada. Mas, pobre por pobre, na cidade se vive melhor. Lá tem até bolsa família.

As causas do desequilíbrio entre a oferta e a demanda de alimentos são muitas, mas a principal delas é o crescimento econômico dos países em desenvolvimento, particularmente do bloco conhecido por BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), o qual responde por quase 50% da população mundial, 20% da área do Planeta e 15% do PIB global. Crescimento da economia significa aumento da demanda, inclusive de alimentos. Estudos indicam que a renda/cápita dos países em desenvolvimento cresceu 7,1% na última década, contra apenas 2,2% dos países desenvolvidos. Outro dado mostra que em 1990, 32% da população global não ingeriam a quantidade de calorias diárias necessárias. Hoje, é de apenas 15%. Nesse período, somente a China incorporou 400 milhões de cidadãos ao mercado de consumo. Esses novos consumidores, somados aos seis milhões que nascem todo o mês, pressionam a demanda e a lei é clara: se a demanda é maior do que a oferta, o preço sobe.

Além do crescimento econômico, que promoveu o aumento da renda/cápita, que promoveu o aumento do consumo, não podemos deixar de acrescentar outros fatores como responsáveis pela escalada dos preços dos alimentos, dentre os quais se destaca o aumento do custo de produção: o petróleo, que fornece o diesel usado no trator que cultiva a terra, no caminhão que traz os insumos e leva a produção e na colhedora que recolhe os grãos do campo, cresceu 350% - apenas nos últimos cinco anos. O minério de ferro, que fornece o aço usado na fabricação das máquinas e dos implementos agrícolas, cresceu 330% no mesmo período. Como produzir sem repassar esses custos ao produto final?

Ademais das causas já citadas, podemos enumerar outras, não menos importantes, nessa guerra de preços:

* Subsídios à produção agrícola dos países ricos, o que desestimula a produção nos países mais pobres,
* Redução da área agrícola, em função do crescimento das áreas urbanas, das áreas de preservação ambiental, das áreas de parques e de rodovias;
* Estoques mundiais de alimentos em queda (nunca estiveram tão baixos);
* Desvalorização do dólar frente a outras moedas (inclusive o Real);
* Especulação financeira dos fundos de investimento com commodities agrícolas (a produção mundial de trigo, milho e soja de 2007 foi vendida, respectivamente, 4.5, 9.4 e 19.6 vezes na Bolsa de Cereais de Chicago);
* Mudanças climáticas provocando estiagens (Austrália e Ucrânia em 2007) e inundações (EUA em 2008).

Pode parecer provocação, mas a alta do preço dos produtos agrícolas foi uma bênção para o Brasil. Nunca o cenário nacional e mundial foi tão favorável ao País, principalmente na produção de alimentos e de bioenergia. Tudo conspira a favor do desenvolvimento econômico e social do Brasil, que tem o que o mundo moderno mais precisa: minérios, alimentos e energia.

O que mais nos diferencia dos concorrentes, é nossa capacidade para produzir mais, muito mais. Nossos produtores estão entre os mais dinâmicos e arrojados do mundo, necessitando, apenas, de ferramentas e de estímulos para avançar. O Brasil tem terra, clima e tecnologia para produzir em regiões tropicais, onde há muita luz e calor, o que favorece a produção de dois ou até três cultivos na mesma terra e no mesmo ano.

Já somos o primeiro produtor mundial de café, açúcar, feijão e suco de laranja; o segundo de soja, carne bovina, tabaco e etanol; o terceiro de milho, frutas e carne de frango e o quarto de carne suína. Mas, apesar de primeiro produtor de apenas quatro produtos agrícolas, o Brasil lidera na exportação de oito: soja, café, açúcar, carne bovina, carne de frango, suco de laranja, tabaco e etanol, e sinaliza com potencial para ir muito além, na eventualidade de o mercado continuar em alta e favorecendo a renda dos produtores.

O setor agro-industrial brasileiro cresce significativamente há décadas, resultado da expansão da área de produção e, principalmente, do aumento da produtividade. Hoje, o setor responde por cerca de 24% do PIB nacional, pela geração de 37% dos empregos e por 36% das exportações totais do País. Em 2000, somavam US$ 20,6 bilhões as exportações do agronegócio nacional, cresceu para US$ 58,4 bilhões em 2007 e promete superar os US$ 70 bilhões em 2008, contribuindo significativamente para a geração de saldos comerciais para o Brasil. Na verdade, as contribuições do agronegócio representaram a totalidade (1994 a 2004 e em 2007) ou a maior parcela (85% em 2005 e 90% em 2006) do superávit da balança comercial brasileira. O superávit de 2007 foi de US$ 42 bilhões e sinaliza para montantes ainda maiores em 2008, quando, se estima, o complexo soja e as carnes, responderão por 80% desse saldo.

Acorda Brasil, esta é a tua hora. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”.

Autor: Amélio Dall’Agnol
Pesquisador da Embrapa Soja

Fonte: Pesquisador da Embrapa Soja







Economia e Mercado
Veja mais artigos
Veja mais downloads
Veja mais notícias
Veja mais eventos


















Importante: Não é de responsabilidade dos autores nenhum dano direto ou indireto, relacionado ou proveniente de qualquer ação ou omissão resultante de qualquer informação contida neste material. Todas as conseqüências advindas de qualquer medida com base nesse material são, única e exclusivamente, de responsabilidade do leitor.

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Milho atinge novo máximo histórico

O milho bateu um novo recorde, impulsionado pelos receios de que a chuva intensa sentida nos Estados Unidos reduza as colheitas, e com o aumento dos custos com o petróleo e a queda do dólar a levarem os investidores a apostarem em ‘commodities’ como investimento alternativo.

Mafalda Aguilar

O milho para entrega em Julho subiu 20,75 cêntimos, ou 3,2% para os 6,715 dólares o alqueire no mercado electrónico de Chicago, depois de na semana passada ter valorizado 8,6%, o maior ganho semanal das últimas dez semanas. Desde o arranque do ano, o milho já ganhou 47%, a caminho do quarto ano consecutivo de ganhos, com a procura a aumentar por parte dos produtores de biocombustíveis e as reservas do cereal em mínimos de 24 anos.

"As chuvas aumentaram os receios sobre a produção de milho deste ano", disse à Bloomberg Daisuke Yamaguchi, analista de futuros da Yutaka Shoji Co.

"As preocupações sobre as perdas de produção devido ao mau tempo, o aumento dos preços do petróleo e o enfraquecimento do dólar aumentaram a procura especulativa por produtos agrícolas que são fundamentalmente fortes por causa das reduzidas reservas", explicou o mesmo especialista

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Congresso do milho aproxima-se

VI Congresso Nacional do Milho


Hotel Altis – Lisboa

20 e 21 de Fevereiro de 2008

A ANPROMIS vai realizar nos próximos dias 20 e 21 de Fevereiro, o VI Congresso Nacional do Milho, no Hotel Altis em Lisboa (Rua Castilho n.º 11).

Neste evento, que contará com a presença de um notável painel de oradores, serão debatidos os temas que mais preocupam os Produtores Nacionais de Milho e abordados os novos desafios que se colocam a esta fileira.
De entre os assuntos a discutir destacamos, pela sua relevância, os seguintes temas:
O enquadramento do milho e da agricultura de regadio na nova Política Agrícola Europeia
O aumento da eficiência energética nas explorações agrícolas
O milho: matéria prima do futuro
O mercado mundial de cereais e as suas perspectivas futuras
Aproveitamos a ocasião para informar que o programa definitivo do congresso e a respectiva ficha de inscrição ficarão disponíveis neste site logo que possível

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Milho atinge valor mais elevado desde 1996

Mercados 2008-01-09 08:48
Ouro bate recorde e milho atinge valor mais elevado desde 1996 com aumento da procura
O ouro subiu para o valor mais elevado de sempre, enquanto o milho alcançou máximo dos últimos 11 anos, com a subida do petróleo e o enfraquecimento do dólar a aumentarem a procura destas ‘commodities’ como protecção para a inflação.

Mafalda Aguilar

Com o petróleo cada vez mais caro, os países tentam encontrar alternativas para a produção de energia. É o caso dos biocombustíveis que são alimentados a cereais, como o milho e a soja, e estão na primeira linha da resposta energética. O aumento da procura de cereais eleva os preços destes alimentos. O milho atingiu hoje o valor mais elevado desde 1996

Diario Economico