quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Subida de preços ameaça provocar nova crise alimentar (Público - 18/11/2010)

Subida de preços ameaça provocar nova crise alimentar
João Manuel Rocha
a As más notícias vêm agora de outro
lado. A subida de preço dos alimentos
nos últimos meses pode provocar
problemas de abastecimento em 2011
e, a menos que as colheitas aumentem
signifi cativamente no próximo
ano, o mundo deve preparar-se para
tempos difíceis.
O alerta é da FAO, a Organização
das Nações Unidas para a Agricultura
e Alimentação, que ontem divulgou o
seu relatório bianual sobre perspectivas
alimentares. O custo das importações
de comida pode ultrapassar este
ano o bilião (um milhão de milhões)
de dólares, devido ao brusco aumento
de preços face a 2009.
O índice FAO Food Price subiu 34
pontos entre Junho, data da divulgação
do anterior relatório, e Outubro,
quando registava uma média de 197
pontos, apenas 16 abaixo do pico de
2008. A factura alimentar dos países
mais pobres deve subir este ano 11 por
cento, valor estimado em 20 por cento
para países com baixo rendimento
e défi ce alimentar.
O aumento de preços deve-se a diferentes
factores, o mais importante
dos quais foram as más colheitas de
alguns produtores-chave, designadamente
Estados da antiga União Soviética,
o que vai implicar uma redução
de stocks e levar a difi culdades no
abastecimento.
A subida começou por se fazer
sentir no mercado de cereais, mais
acentuadamente no trigo e na cevada,
em Agosto, devido a condições climatéricas
desfavoráveis que levaram a
que as previsões de crescimento de
1,2 por cento na produção, adiantadas
em Junho, dessem lugar a um cenário
de queda de dois por cento.
As estimativas da FAO são de que os
stocks de cereais caiam sete por cento,
com baixa mais acentuada na cevada,
35 por cento, milho, 12 por cento, e
trigo, dez por cento. Só nas reservas
de arroz se espera uma subida, da
ordem dos seis por cento. O enfraquecimento
do dólar ajuda também
a explicar a subida de preços, uma vez
que a maior parte das transacções é
feita nessa moeda.
A FAO espera que as reservas, actualmente
maiores do que na crise de
2007/2008, designadamente de arroz
e farinha de milho, alimentos de primeira
necessidade em muitos países
vulneráveis, permitam enfrentar melhor
o problema, mas isso não a impede
de estar preocupada com o efeito
dos aumentos. A apreensão estende-se
aos próximos anos, devido à previsível
diminuição de reservas. “Tendo em
conta a expectativa de quebra geral de
stocks, a dimensão das colheitas dos
próximos anos será um dado crítico
para a estabilidade”, refere.
A expectativa é de que em resposta
à subida de preços os agricultores alarguem
as áreas de cultivo, o que pode
não apenas fazer face às necessidades
mais imediatas como permitir repor
stocks. Mas os cereais não são as únicas
culturas atraentes para os agricultores
– produtos como a soja, o açúcar e o
algodão registaram também aumentos
de preços –, o que “pode limitar as
plantações a níveis insufi cientes para
aliviar o aperto”, diz a FAO.
Neste quadro, assinala a organização,
os consumidores podem ter
que resignar-se a pagar “preços mais
elevados pelos alimentos

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